domingo, dezembro 11, 2005

fecharam-se uns olhos únicos...



Estou triste...

Perdi um grande amigo.
Foi com o meu Vigia/Poeta que passei horas infinitas a olhar para o mar.
Além de olhar para o horizonte juntos, falamos horas, comemos juntos, adormecemos aos binóculos, cantamos juntos, rimos juntos, choramos juntos... poderia continuar, mas quero falar deste meu amigo que deixou de declamar.

Durante vários verões seguidos, lá ia eu todos os dias, para a vigia: a pé, à boleia, de bicicleta, mais tarde de carro e lá estava ele, sempre olhando através daqueles "zeiss", (que nenhuma mulher podia espreitar, para não nebulá-los) para os "peixes".
Poderia contar episódios, que davam para escrever um livro, mas na verdade apetece-me só lembrar quanto este meu amigo me deu.

Aprendi imenso com este homem, os seus olhos não olhavam só para lá longe, olhavam também para dentro... sim, e com que profundidade...
Era um poeta, filosófo, técnico, e o mais importante um amigo.

Lembro-me de uma conversa que tive com ele que me marcou, vou contá-la para que saibam que esteja onde ele estiver, ele está em paz... porque ele pensava muito no que acontecia a seguir desta viagem em que ainda estamos todos, passamos algumas horas a discutir sobre este assunto, e como todos nós, ele também tinha os seus medos quanto ao virar esta página, mas disse-me que, se Deus existia iria dar-lhe paz quando partisse, porque o diabo tinha-lhe vistado várias vezes nesta vida, e que ele teve que lutar muitas vezes contra.

João, vou sentir imensa falta daquele nosso aperto de mão especial que davamos cada vez que nos viamos.

Despeço-me de ti com um beijo suave, e cada vez que eu olhar para aquele horizonte, e vir uma espuma branca mais evidente, vou olhar para o céu na sua direcção, e sei que vai lá estar uma nuvem a indicar-me, que és tu a dizer-me que não me preocupe porque estás em páz e leve como ela.

09.12.2005